CARTA ABERTA – AUTONOMIA DO SKATEBOARDING BRASILEIRO EM RISCO

O Skateboarding brasileiro começa 2024 com sua autonomia em risco.

A menos de seis meses das Olimpíadas, a Confederação Brasileira de Skateboarding (CBSk) ainda não tem a garantia de que representará a modalidade nos Jogos de Paris.

Não há como dizer que a preparação dos skatistas não será prejudicada. Ela já está sendo prejudicada.

Em países como Canadá, Holanda e Suécia, essa questão se resolveu com as federações nacionais de Hóquei e Patins reconhecendo o que é justo e deixando as federações nacionais de Skateboarding seguirem representando a modalidade.

No Brasil, o fantasma que nos assombrou em 2017 volta a aparecer. Naquele momento, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) reconheceu a legitimidade da Confederação Brasileira de Skateboarding (CBSk). O que mudou de lá para cá? Por que agora o presidente do COB não reconhece mais essa legitimidade?

Essa postura faz com que, cada vez mais, a Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP) avance nessa tentativa espúria de se apropriar do Skateboarding.

Primeiro, o COB adotou o silêncio. Depois, cometeu o equívoco técnico grotesco de dizer num documento oficial que a representatividade única é uma exigência da Carta Olímpica.

Isso não é verdade. Não desrespeitamos a Carta Olímpica em Tóquio 2020. E não estamos desrespeitando agora. A representatividade única é apenas uma vontade política da Federação Internacional de Roller Sports (World Skate – WS).

Só para citar dois exemplos, dentre tantos, de que cada modalidade pode contar com uma representação, temos Austrália e Estados Unidos, potências da Natação. Os dois países possuem federações nacionais específicas para Natação, Polo, Saltos Ornamentais, entre outras. Todas filiadas diretamente à Federação Internacional de Natação (World Aquatics).

Lamentavelmente, não possuímos rigorosamente nenhum respaldo do COB, a quem cumpria, a exemplo de como fez o Ministério do Esporte, ter se posicionado de modo firme e objetivo no sentido de defender concretamente a autonomia das modalidades, como aliás garante a Constituição brasileira. Na prática, que o Skateboarding seja tocado pelo Skateboarding. E que o Hóquei e o Patins sejam tocados pelo Hóquei e pelo Patins.

Importante frisar que enviamos uma proposta à CBHP alguns dias depois da Federação Internacional de Roller Sports informar que não postergaria o prazo de 31 de dezembro para um entendimento entre CBSk e CBHP. 

Pela proposta, a CBSk seria a representante junto à Federação Internacional pelo fato do Skateboarding ser olímpico. Caso alguma modalidade do Hóquei e da Patinação se torne olímpica, alternaríamos a representatividade por ciclo olímpico. Essa proposta foi rejeitada pelo presidente da CBHP.

Além disso, desde já, a CBHP faria a representação junto à Federação Internacional sempre que o assunto fosse Hóquei e Patins. Não queremos nos apropriar de nada que não seja nosso.

A Federação Internacional de Roller Sports segue em silêncio, sem dar resposta às nossas comunicações recentes.

Solicitamos que o prazo (31 de dezembro) para um entendimento entre CBSk e CBHP fosse postergado. Já que a definição por uma representatividade única não tem urgência, ela não muda em nada o funcionamento da Federação Internacional.

Comunicamos também que o Ministério do Esporte, enquanto órgão máximo do esporte brasileiro, é quem deve ser consultado diante do impasse que se criou. O estatuto da Federação Internacional cita essa consulta em caso de impasse. Até o presente momento, essa consulta não foi realizada.

Também propusemos a criação de um grupo de trabalho em prol do Skateboarding. Mas ainda não obtivemos qualquer resposta. 

Seguimos contando com o amparo do Ministério do Esporte para um diálogo entre CBSk, COB e CBHP.

De qualquer sorte, não podemos deixar de traçar um breve comparativo entre as duas confederações, pois o contraste evidente entre ambas seguramente contribuirá para a correta formação da opinião pública, bem como para a tomada da decisão mais racional e justa por parte das autoridades esportivas competentes. 

De um lado, temos a CBSk, a Confederação Brasileira de Skateboarding, reconhecida pelo próprio COB pela excelência em prestação de contas, premiada pelo movimento Sou do Esporte por dar voz aos skatistas e com conquistas esportivas e de gestão que nos garantiram o 4º maior orçamento de 2024 dentre as entidades olímpicas.

Do outro lado, temos a CBHP, a Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação, cujo presidente, ao perpetuar-se no poder, acaba castigando a sua própria Confederação, uma vez que a reeleição por ciclos indeterminados é um dos impeditivos legais para o recebimento de verbas públicas. Isso torna a entidade praticamente refém do COB, pois dependerá dele para executar, ainda que de modo precário, qualquer iniciativa ou projeto das modalidades que alberga; que não tem qualquer experiência no Skateboarding, jamais tendo trabalhado com a modalidade em toda a sua história, como aliás reconhece seu presidente; e que tenta, mais uma vez, se apropriar do Skateboarding com um discurso cínico, ao sustentar que Skateboarding, Hóquei e Patins no fundo são a mesma coisa, pelo simples fato de que Skate em inglês significa Patins.

Como a CBHP não pode receber verbas públicas e o COB sabe disso, o Comitê estaria disposto a executar de forma “indireta”, por assim dizer, um orçamento que foi conquistado legitimamente, com muito trabalho e esforço, pela CBSk?

Sabendo-se que a lei veda essa forma de execução, não nos parece que esta seja a via adequada. Dentro deste contexto, fica claro que a questão da legitimidade para representar o Skateboarding possui consequências financeiras significativas para a modalidade, correndo-se o risco – dependendo do desfecho deste capítulo – de que o Skateboarding brasileiro perca mais de dez milhões de reais já aprovados para este ano.

Esse tratamento “desinteressado” do COB é uma ação premeditada? Qual o objetivo? Infelizmente, a postura do presidente do Comitê Olímpico do Brasil abre espaço para esse tipo de dúvidas.

Com todas essas implicações e riscos, analisada sob qualquer viés positivo (legalidade, compliance, transparência, gestão, performance esportiva etc.), a postura do COB se mostra incompreensível e injustificável. A insegurança, a angústia, e a incerteza que estão sendo geradas em razão desta falta de apoio já acarreta prejuízos relevantes à preparação para os Jogos, bem como à continuidade das políticas que têm levado o Skateboarding brasileiro ao fantástico crescimento que temos o prazer de testemunhar. Mas obviamente que os prejuízos serão ainda maiores e mais graves, irreparáveis, ousamos dizer, caso a administração do Skateboarding brasileiro seja arrancada à força, de modo ilegítimo, violento e abrupto, das mãos da CBSk.

Nossa legitimidade para representar o Skateboarding brasileiro é amparada por escrito tanto pelo Ministério do Esporte quanto pelo COB. Esperamos que essa cortina de fumaça criada pelo próprio COB e pela CBHP não prejudique a análise objetiva do tema.

Nosso trabalho nos últimos anos fez com que a Confederação Brasileira de Skateboarding conquistasse respeito e admiração. A conclusão a que se chega não pode ser outra: o Skateboarding está muito bem, obrigado, com a CBSk, e é aqui que deve permanecer.

Vida longa ao Skateboarding Brasileiro!

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Por Sagaz

/// Diretor de Arte por profissão e Skatista da vida. Conhecido como Julio Sagaz no Vale do Paraíba/SP, skatista overall desde 1995, passando pelas marcas Ramp Real Street/Santos, Posso! Caçapava, Posso/Adidas, Posso/RedNose e DoubleM. Atualmente é diretor da agência de publicidade e criador do maior portal de skate do vale do Paraíba a Skate Vale Brasil. 🛹💥🤟🌎📌📸 #juntossomosmaisfortes #skatesalva #mapadaspistas #valedoparaibasp